segunda-feira, 1 de agosto de 2011

31 de Julho – Dia Internacional da Mulher Africana


2011 – 33 anos de luta do Movimento Negro Unificado – MNU no Brasil
31 de Julho – Dia Internacional da Mulher Africana

A idéia de comemorar o 31 de julho  como Dia Internacional da Mulher Africana surgiu na Conferência da Mulheres Africanas, em 1961, que contou com a participação de 14 países e oito Movimentos de Libertação Nacional em Dar Es Salaam, na Tanzânia, quando foi criada organização Panafricana das Mulheres que tem como objetivo a luta pela promoção de todas as mulheres africanas. A data foi instituída e passou a ser lembrada a partir de 31 de julho de 1962.
Assim, como em todo o mundo, no continente africano a mulher continua sendo discriminada e subjulgada. Entretanto, tem conquistado espaços no mercado de trabalho e do poder político.
Com a descolonização de África, na segunda metade do século XX, muitas mulheres passaram a exercer funções no mercado de trabalho, porém a remuneração continuou inferior a do homem.
A luta da mulher africana se assemelha a luta da mulher negra em toda parte do mundo, uma vez que ainda tem de lutar por reconhecimento, valorização e por melhores condições de vida nas sociedades onde vivem.
A luta das mulheres negras ainda é grande no Brasil. As mulheres negras compõem uma das maiores categorias de trabalhadoras da nação, a das domésticas, sendo discriminadas, exploradas e submetidas a uma intensa jornada de trabalho.
As mulheres negras da zona rural, cuja maioria vive em comunidades quilombolas, sofrem com a falta de condições mínimas de sobrevivência.
As Convenções contra todas as formas de discriminação sejam da mulher ou de outros segmentos, adotadas pelo Brasil, estão longe de serem cumpridas.
Ainda há um longo caminho a se percorrer em busca de respeito, dignidade, valorização profissional da mulher negra, que continua sendo o esteio familiar. Se quisermos uma sociedade realmente justa, devemos lutar:
-                     Pelo fim da discriminação racial no trabalho;
-                     Contra a exploração sexual, social e econômica da mulher negra;
-                     Por condições de vida digna para o povo negro.
Conscientize-se! Reaja à Violência Racial! Não silencie frente à violência e opressão! Denuncie sempre!
Viva todas as guerreiras que abriram o caminho para nossa luta!

Comissão de Mulheres do Movimento Negro Unificado – MNU (MA)

Movimento Negro Unificado – MNU

domingo, 1 de maio de 2011

30 de Abril – Dia Nacional da Mulher

O 30 de abril é lembrado como Dia Nacional da Mulher. Foi no dia 30 de abril que nasceu a fundadora do Conselho Nacional das Mulheres, Sra. Jerônima Mesquita, filantropa e foi escolhido o dia de seu nascimento para se comemorar o Dia Nacional da Mulher. Instituída sob a Lei nº 6.791 de 9 de junho de 1980, pelo presidente João Figueiredo, a data surge depois que a Ditadura Militar (1964-1984) proibiu as comemorações do Dia Internacional da Mulher (8 de março) – uma data de origem socialista – instituída pelas Nações Unidas. No dia 8 de março de 1857, as operárias têxteis de  Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução da carga horária de trabalho de mais de 16 horas por dia para 10 horas e equiparação salarial com os homens que desempenhavam igual função. As operárias que, nas suas 16 horas, recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica pelos patrões, que trancaram as portas da fábrica, ateando fogo no local e  129 mulheres morreram queimadas e asfixiadas. Em 1910, na II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, em Copenhague, Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, a comemoração do 8 de março como "Dia Internacional da Mulher". Após a proibição oficial, os governantes da época se viram obrigados a demonstrar simpatia pela luta das mulheres por direitos quando a ONU decretou a Década da Mulher de 1975 a 1985. A data do 8 de março marca a luta das mulheres pela igualdade de direitos. O século passado foi marcado pela luta pelos direitos das mulheres negras e não-negras, negros e demais segmentos discriminados na sociedade. Porém, pouco se divulgam organizações de mulheres negras. Duas delas fizeram parte do TEN (Teatro Experimental do Negro): a Associação das Empregadas Domésticas e o Conselho Nacional de Mulheres Negras, criado em 18 maio de 1950 por Maria de Lurdes Vale Nascimento.  
A luta das mulheres negras ainda é grande no nosso país. As mulheres negras compõem uma das maiores categorias de trabalhadoras da nação, a das domésticas, sendo discriminadas, exploradas e submetidas a uma intensa jornada de trabalho e são oprimidas, inclusive, por mulheres, quando empregadoras, que desrespeitam direitos, descumprindo-os. As mulheres negras da zona rural, cuja maioria vive em comunidades negras rurais quilombolas, no Maranhão, sofrem com a falta de condições mínimas de sobrevivência.
As relações escravistas ainda permeiam as relações de trabalho e inclusive pessoas, dentre elas mulheres, com cargos e nível de instrução elevados na sociedade maranhense oprimem muitas trabalhadoras, principalmente as domésticas.
As Convenções contra todas as formas de discriminação sejam da mulher ou de outros segmentos, adotadas pelo Brasil, estão longe de serem cumpridas.
Ainda há um longo caminho a se percorrer em busca de respeito, dignidade, valorização profissional da mulher negra, que continua sendo o esteio familiar. Se quisermos uma sociedade realmente justa, devemos lutar:
-          Pelo fim da discriminação racial no trabalho;
-          Contra a exploração sexual, social e econômica da mulher negra;
-          Por condições de vida digna para o povo negro.
Conscientize-se e Reaja à Violência Racial! Não silencie frente à violência e opressão!
Viva Luíza Mahin, Lélia Gonzalez, Maria Firmina dos Reis, Mãe Andresa, Laudelina Campos Melo, Antonieta de Barros e todas as guerreiras que abriram o caminho para nossa luta!

Comissão de Mulheres do Movimento Negro Unificado – MNU

Movimento Negro Unificado – MNU

segunda-feira, 25 de abril de 2011

FORMAÇÃO POLÍTICA DE MILITANTES MULTIPLICADORAS/ES

Caras/os cursistas,

Informamos que já encontra-se disponível para acesso, o Texto 2 - Racismo, Discriminação Racial e Preconceito Racial do Módulo II, que se inicia 25.04.2011, conforme cronograma, para estudo e realização das atividades indicadas no próprio texto. Como é do seu conhecimento, as atividades realizadas devem ser encaminhadas para o e-mail da Coordenação Nacional de Formação até o dia 15.05.2011. Após essa data, teremos a indicação de outras referências para estudo e ampliação do conhecimento sobre o tema, caso cumpram o planejado e encaminhem as atividades que farão parte do Relatório da Coordenação Nacional de Formação do MNU. Confirmamos que o cronograma da formação se mantém inalterado.
Para facilitar o acesso ao texto no próprio link da formação, sugerimos para quem ainda não tem um e-mail gmail que criem um para que consigam acessar sem problemas. Entretanto, por precaução, caso surjam problemas de acesso, enviamos o texto em pdf por e-mail às/aos inscritas/os.
Bom estudo!

MÓDULO/TEMA/PERÍODO
I Identidade Étnico-Racial e Resiliência (autoestima, autonomia, criatividade e humor) 04 a 24.04.2011
II Racismo, Discriminação Racial e Preconceito Racial 25.04 a 15.05.2011
III A reprodução do racismo na sociedade brasileira 16.05 a 05.06.2011
IV A Resistência do Povo Negro ontem e hoje 06.06 a 26.06.2011
V Direitos Humanos, Reparações e Ações Afirmativas 27.06 a 17.07.2011

Lembramos que as atividades e trabalhos serão orientados durante o curso, devendo a/o cursista procurar a Coordenação da Formação para dirimir dúvidas.
O prazo para envio do trabalho de conclusão do curso (TCC): Plano de Formação Política de Militantes do MNU será de 18 a 29.07.2011, data de encerramento do curso. Após a conclusão do curso, a Coordenação encaminhará os certificados eletronicamente.
Se você ainda não enviou as atividades por e-mail ou se tiver dúvidas para elaborar as atividades, procure-nos por meio do e-mail con.formacao.mnu@gmail.com para saná-las, ou, se preferir, ligue-nos diariamente às 22h. Nosso telefone convencional é: (98)3244-5271.
Ilma Fátima de Jesus
Coordenadora  Nacional de Formação do MNU
e-mail: con.formacao.mnu@gmail.com
http://formacaopoliticaconmnu.blogspot.com/

segunda-feira, 21 de março de 2011

Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial

2011 – 32 anos de luta do Movimento Negro Unificado – MNU no Brasil

21 de Março – Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial

Instituído pela Organização das Nações Unidas – ONU como Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, o dia 21 de março é lembrado em memória às vítimas do massacre de Sharppeville, ocorrido na cidade de Johanesburgo, na África do Sul, há 51 anos, no mesmo dia do ano de 1960, quando milhares de negros e negras que protestavam contra a lei do passe, que os obrigava a portar cartões de identificação. Mesmo sendo uma manifestação pacífica, o exército atirou sobre a multidão e o saldo da violência foi de 69 mortos e 186 feridos.
No Brasil, a data vem sendo lembrada pelas organizações e entidades do movimento negro. O Movimento Negro Unificado - MNU, organização nacional com representação em 14 estados da federação e no Distrito Federal, vem resgatando a importância da data anualmente. Esta sempre foi uma data de luta para a militância negra, inclusive para exigir o fim do apartheid para os sulafricanos, entretanto a data é celebrada mundialmente.
Neste ano refletimos que há necessidade de continuarmos lutando contra a violência policial que atinge uma maioria negra  e jovem no nosso país e, em geral, a justiça ainda não tem sido feita com a punição daqueles que contribuem para o extermínio do povo negro.
A visita do Presidente Barack Obama, primeiro presidente negro dos EUA, nos faz refletir sobre as políticas de promoção da igualdade racial que carecem de ações efetivas que eliminem as persistentes desigualdades raciais manifestadas na educação,  mercado de trabalho, meios de comunicação, saúde da população negra, religiões de origem africana, comunidades quilombolas dentre outras áreas. Para nós, militantes do MNU, é importante denunciar a realidade sobre a situação do povo negro no país e apontar para a necessidade de transformação da situação enfrentada  com o racismo institucional que deve ser eliminado para que haja  equidade racial.
Nossa luta por ações afirmativas nos diferentes setores da atividade social e política do país continua e o debate a necessidade de cumprimento do direito de certificação e titulação aos territórios das comunidades quilombolas e tradicionais também continua. Pelo atendimento aos nossos direitos, continuaremos a lutar por melhores condições de vida para a população negra, pelo respeito às religiões de origem africana, contra o extermínio da juventude negra e por paz no mundo.
Conscientize-se! Reaja à Violência Racial
REPARAÇÃO JÁ!

Coordenação Nacional de Formação do
Movimento Negro Unificado – MNU

quarta-feira, 9 de março de 2011

FORMAÇÃO POLÍTICA DE MILITANTES MULTIPLICADORAS/ES


Informamos a prorrogação do prazo das inscrições para a Formação Política de Militantes Multiplicadoras/es do MNU até 03.04.2011.
A nova data de início do curso será, impreterivelmente, 04 de abril de 2011. A formação terá o seguinte cronograma:
 


MÓDULO
TEMA
PERÍODO
I
Identidade Étnico-Racial e Resiliência (autoestima, autonomia, criatividade e humor)
04 a 24.04.2011
II
Racismo, Discriminação Racial e Preconceito Racial
25.04 a 15.05.2011
III
A reprodução do racismo na sociedade brasileira
16.05 a 05.06.2011
IV
A Resistência do Povo Negro ontem e hoje
06.06 a 26.06.2011
V
Direitos Humanos, Reparações e Ações Afirmativas
27.06 a 17.07.2011


As atividades e trabalhos serão orientados durante o curso.
O prazo para envio do trabalho de conclusão do curso (TCC): Plano de Formação Política de Militantes do MNU será de 18 a 29.07.2011, data de encerramento do curso.
Contribua para a formação política da militância no MNU. Inscreva-se!
Obs.: Caso não seja possível escanear as fichas para envio por e-mail, solicitamos à Coordenação de Formação e/ou à Coordenação do MNU nos estados, municípios e no Distrito Federal, o encaminhamento da lista de militantes inscritas/os em sua seção.

Ilma Fátima de Jesus
Coordenadora  Nacional de Formação do MNU
e-mail: con.formacao.mnu@gmail.com
http://formacaopoliticaconmnu.blogspot.com/
FORMAÇÃO POLÍTICA DE MILITANTES MULTIPLICADORAS/ES

A Coordenação Nacional de Formação do Movimento Negro Unificado – MNU comunica às/aos militantes das seções do MNU nos municípios, estados e Distrito Federal que estarão abertas no período de 09 a 19 de março, as inscrições para o curso de FORMAÇÃO POLÍTICA DE MILITANTES MULTIPLICADORAS/ES.
Serão aceitas inscrições de militantes que atuem nas seções do MNU de todo o Brasil.
OBJETIVO: Formar multiplicadoras/es para contribuir para a ampliação do quadro de militantes  para o combate ao racismo e suas manifestações em todos os campos da atividade social.

DADOS NECESSÁRIOS PARA INSCRIÇÃO



Envio da ficha cadastral e da ficha de inscrição pela Coordenação Estadual ou Municipal de militantes inscritas/os para a formação (escaneadas via e-mail para:



NÚMERO DE VAGAS
Serão oferecidas 05 (cinco) vagas por estado, das quais:

02 (duas) para membros da Coordenação Estadual ou Municipal;
03 (três) para militantes em geral;
01 (uma) para integrantes da CON.

CARGA HORÁRIA
40 horas

ESTRUTURA DO CURSO
A FORMAÇÃO POLÍTICA DE MILITANTES MULTIPLICADORES/AS
.constará de uma carga horária total de 40 (quarenta) horas, divididas em 05 (cinco) módulos.

ESTRUTURA CURRICULAR

Abertura do Curso (21 de março de 2011)

Módulo I
·         Identidade Étnico-Racial e Resiliência (autoestima, autonomia, criatividade e humor)

Módulo II
·         Racismo, Discriminação Racial e Preconceito Racial
Módulo III
·         A reprodução do racismo na sociedade brasileira

Módulo IV
·         A Resistência do Povo Negro ontem e hoje

Módulo V
·         Direitos Humanos, Reparações e Ações Afirmativas.


Encerramento do Curso (7 de julho de 2011)

A participação no curso se dará da seguinte forma:
a)    Apresentação de atividades online (produção textual  sobre os temas);
b)    Participação com comentários e depoimentos durante o curso;
c)    Atividade final de curso que consistirá na elaboração de um Plano de Formação Política de Militantes para ser aplicado na seção do MNU em que a/o cursista atua.
As/Os cursistas terão prazos estabelecidos por módulo, para postarem as atividades.
Certificado de Conclusão:
Será conferido o certificado de conclusão do curso à/ao militante que concluir no mínimo 75% da carga horária correspondente às exigências de cada módulo da estrutura curricular.

Ilma Fátima de Jesus
Coordenadora  Nacional de Formação do MNU

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Os desafios da formação política da militância do Movimento Negro Unificado – MNU


Ilma Fátima de Jesus[1]

Pelos caminhos da militância

Procuramos evidenciar a necessidade de uma contínua formação política das/os militantes do Movimento Negro Unificado - MNU, considerando a necessidade de ampliação dos quadros da organização, a fim de manter a atuação de forma qualificada, haja vista a proliferação de entidades e organizações não-governamentais que buscam aliar-se ao MNU com o objetivo de afirmarem-se e, ao mesmo tempo, talvez, suplantar a nossa. Entendemos que a formação deve nortear o conhecimento sobre as linhas de ação contidas nos documentos básicos do MNU.
Sou militante do MNU há 25 anos. Entrei para a organização quando a mesma completava seis anos de existência e comemorava os anos de luta no Teatro Sérgio Cardoso, à Rui Barbosa, no bairro da Bela Vista, mais conhecido como Bexiga, levada por um militante que já atuava no movimento desde 1981, Adomair O. Ogunbiyi, que conhecia desde os meus 17 anos, hoje companheiro de vida e luta.
No MNU São Paulo naquela época, estava o Miltão, Milton Barbosa, como era conhecido, um dos fundadores do movimento. Aos poucos nossa militância foi crescendo. Eu era uma pessoa tímida, de pouco falar. Na militância era cobrada pelo Adomair, que também não falava muito em público, que era preciso fazer palestras, falar sobre a história do nosso povo e lá fui eu pesquisar, estudar mais, tentar organizar as idéias para poder atuar. Já havia uma consciência negra, um interesse e então o que queríamos, manter nossas raízes, se acentuou.
Percebi que a consciência, que já possuía na época, veio antes da entrada no MNU, pois frequentamos os bailes organizados por equipes compostas por negros na época do movimento black soul. O que queríamos mesmo era estar entre os nossos irmãos e nossas irmãs. Depois, na faculdade que começamos a cursar em 1978, discussões sobre a ausência da questão racial nos cursos foram importantes para que criássemos um grupo de negros e, como ocorereu em outros espaços acadêmicos, nosso grupo com os poucos negros/as que conseguiram adentrar esse meio inseria na Semana Cultural a temática etnicorracial. Foi no ano de 1980, quando conseguimos organizar um debate na faculdade, que conheci o Prof. Kabengele Munanga. Nosso saudoso militante Hamilton Cardoso também estava presente, além da jurista Eunice de Jesus.
Esses passos dados foram importantes pois acompanhei de perto a fundação do movimento negro e poderia estar lá no ato, propriamente dito, mas como priorizava o estudo, não fui ao Teatro Municipal de São Paulo. Sabemos que o movimento negro como proposta política, surge ou ressurge naquele ato do dia 7de julho de 1978, hoje conhecido como Dia Nacional de Luta Contra o Racismo, organizado por ativistas históricos, muitos deles ou delas presentes na luta nossa hoje. A criação do MNU como espaço de debates sobre o racismo, a discriminação e o preconceito raciais, trouxe de volta o protesto negro, lembrando Carlos Assumpção que escreveu um poema com este título, que esteve também na atividade de seis anos do MNU.
Enfim, esse retorno à cena pública, com uma posição de esquerda revolucionária e ideologicamente assumida de radicalismo racial, que contesta a ordem racial de origem escravocrata mantida pela burguesia e que fazia da democracia racial um mito como no movimento pelos direitos civis dos negros americanos, incluía o nacionalismo negro e a luta pela libertação dos povos africanos.
Muitas obras acompanham o surgimento do MNU. Uma delas, O Genocídio do negro brasileiro, de Abdias do Nascimento, um dos fundadores do MNU, é uma das obras que passa a ser lida por militantes. Também Frantz Fanon, com Pele negra, máscaras brancas é leitura obrigatória. O Movimento Negro Unificado - MNU sempre procurou editar um jornal de circulação nacional, a exemplo do Jornal Nêgo, editado pelo MNU da Bahia, na década de 80, seguido de outras iniciativas da militância.
Nos anos 90 Lélia Gonzalez, em entrevista para o Jornal do MNU dizia:

[...] no que diz respeito às questões político-ideológicas, a coisa é séria, a meu ver. O que a gente percebe é que o MNU cutucou a comunidade negra no sentido de ela dizer também qual é a dela, podendo até nem concordar com o MNU. (MNU Jornal, n° 19, maio/junho/julho, 1991, p. 8-9.)

Uma das bandeiras de luta da nossa organização tem sido a valorizar o negro e a negra e chamar a atenção para a contribuição do povo negro na construção do país. A sugestão de introdução de estudos africanos a partir da inserção da história da África no currículo escolar é defendida na Carta de Princípios do MNU, já em 1978, bem como no Programa de Ação.
Na Constituição de 1988, a inclusão na Carta Magna de reivindicações históricas do movimento negro se dão na área educacional e no que se refere às relações étnico-raciais, merece especial atenção o artigo 242, § 1º: O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9.394/1996) é alterada em seus artigos 26 e 79 pelas Leis 10.639 e 11.645, que são assinadas apenas neste século, apesar de representarem um avanço para a educação das relações étnico-raciais e o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana.
Vale destacar que a preocupação do MNU com a educação, com o currículo escolar e com a formação de educadores/as já apontava para a questão das relações étnico-raciais no cotidiano da sala de aula, assim como para situações preconceituosas e discriminatórias ocorridas no espaço escolar.
Desde a III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e as Formas Conexas de Intolerância, em Durban, na África do Sul, em 2001, houve uma mobilização das organizações do movimento negro, que destacaram, entre outras ações de combate ao racismo em nossa sociedade, a necessidade de olhar a educação como prioridade, chamando atenção para as diretrizes curriculares aprovadas em março de 2004, ocasião em que a Profª Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, relatora e conselheira representante da temática étnico-racial no Conselho Nacional de Educação apresentou as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira, aprovadas por unanimidade pelos/as conselheiros/as.
A Lei e as Diretrizes precisam acompanhar as ações necessárias para promoção da igualdade etnicorracial no país, no espaço escolar, consistindo-se em um passo importante, em face da necessidade que temos de mudar o imaginário sobre a África, o que incide em mudanças no imaginário social sobre a população negra no Brasil. O material didático ainda não nos visibiliza como deveria. O Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Nacionais para Educação das Relações Étnico-Racais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana (2009) tem como base estruturante seis eixos, a saber: 1. Fortalecimento do marco legal; 2. Política de formação para gestores/as e profissionais de educação; 3. Política de material didático e paradidático; 4. Gestão democrática e mecanismos de participação social; 5. Avaliação e Monitoramento e 6. Condições institucionais. O Plano indica que é preciso manter permanente diálogo com instituições de ensino, gestores/as educacionais, movimento negro e sociedade civil organizada para a implementação das Leis 10639 e 11645.

Os desafios da formação política da militância

Enfrentamos desafios na militância e temos de refletir sobre a formulação do Projeto Político do Movimento Negro para o Brasil que aparece como tema do X Congresso Nacional do Movimento Negro Unificado; MNU, realizado no mês de abril do ano de 1993, na cidade de Goiânia; Goiás, o que fez com que as teses formuladas pelas/os delegadas/os pudessem contribuir para se pensar em propostas políticas que deveriam compor o projeto político do Povo Negro e quais as políticas prioritárias para serem colocadas em prática na luta para que os objetivos do projeto político fossem alcançados. A formulação, hoje apropriada pelo conjunto do movimento negro, norteará os avanços já anteriormente propostos pelo MNU.
A militante fundadora do MNU, Lélia Gonzalez (1991), afirmava:

[...] A questão da militância tem que ter esse sentido e aí nós temos que aprender com os nossos antigos, os africanos, esse sentido da sabedoria, esse sentido de saber a hora em que você vai interferir e como você vai interferir, fora desse lance individualista.

Entendemos que para se ter uma sólida formação da militância no MNU é preciso conhecer o que é, como surgiu e quais são os objetivos do MNU; como se organiza o MNU; quais as contribuições do MNU à luta do povo negro no Brasil e no mundo; como se dá a atuação do MNU nos estados; onde encontrar o MNU no país. Isso implica saber como o racismo é perverso e como combatê-lo.
Todas/as as/os filiadas/os devem assumir os documentos básicos da nossa organização, ou seja: Estatuto, Programa de Ação, Carta de Princípios e Regimento Interno, comprometendo-se a cumprir orientação advinda de decisão coletiva. Consideramos importante, ainda, tratar de temas como: Educação, Trabalho, Território, Saúde, Cultura, Juventude, Gênero, Religiosidade, Solidariedade Internacional, entre outros temas. Pensamos que é por aí que a formação política da militância deve seguir, sem esquecer de que temos muita produção dentro do MNU, materiais que refletem o que precisamos na organização, com autoria da militância que atua nas várias regiões do país, que poderá subsidiar a formação militante que a atuação no MNU requer.


REFERÊNCIAS

FANON, Frantz. Pele Negra, máscaras brancas. São Paulo: Fator, 1983.

GOMES, Nilma Lino e Munanga,Kabengele (orgs.) Para entender o negro no Brasil de hoje. São Paulo: Ed. Global, 2005

GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. A recepção de Fanon no Brasil e a identidade negra. Novos Estudos – CEBRAP nº.81 São Paulo Julho 2008.

JESUS, Ilma Fátima de. O pensamento do MNU. In: SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves & BARBOSA, Lúcia Maria de Assunção (Orgs.) O Pensamento Negro em Educação no Brasil: Expressões do Movimento Negro. São Carlos: Ed. da UFSCar, 1997

____ Educação, gênero e etnia em território negro. In: LIMA, Ivan Costa, SILVEIRA, Sônia Maria (Orgs.) Negros, Territórios e Educação. Nº 7. Florianópolis: Núcleo de Estudos Negros/NEN, 2000. (Série Pensamento Negro em Educação)

LOPES, Véra Neusa. Racismo, Preconceito e Discriminação. Procedimentos didático-pedagógicos e a conquista de novos comportamentos. IN: MUNANGA, Kabengele (org.). Superando o racismo na escola. Brasília: MEC – SECAD, 2005

Movimento Negro Unificado – VIII Encontro de Negros do Norte e Nordeste. O Negro e a Educação. Recife: MNU/Cia. Ed. Pernambuco, 1988

_____. Programa de Ação – Estatuto. Salvador: MNU,1990

_____. Jornal do MNU - n° 19, maio/junho/julho, 1991, p. 8-9.

MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro. Processo de racismo mascarado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

_____. Reflexões sobre o Movimento Negro no Brasil, 1938-97. Brasília: Thoth, N.º. set /dez. 1997

OGUNBIYI, Adomair O . Racismo, Discriminação e Preconceito raciais: definir é preciso. VI Congresso Afro-Brasileiro – Fundação Joaquim Nabuco 17 a 20.04.1994 – Recife – PE.

_____. O que é movimento negro? São Bernardo do Campo, SP: Cadernos Papo Sério – Movimento Negro Unificado – MNU, 1996.

SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e. Aprendizagem e ensino das Africanidades Brasileiras. In: MUNANGA, Kabengele (org.). Superando o racismo na escola. Brasília: MEC – SECAD, 2005



[1] Coordenadora Nacional de Formação do Movimento Negro Unificado - MNU, Coordenadora Estadual de Formação e Organização do MNU (MA), Coordenadora da Comissão de Mulheres do MNU (MA), Mestra em Educação pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA, Professora das disciplinas Currículo e Educação das Relações Étnico-Raciais no Curso de Pedagogia da Faculdade Santa Fé, Especialista em Educação na Secretaria Municipal de Educação de São Luís – SEMED, na função de Coordenadora da Equipe de Currículo e da Equipe Técnica de Educação das Relações Étnico-Raciais, Supervisora Escolar na Secretaria de Estado da Educação – SEDUC, na função de técnica da Equipe de Educação das Relações Étnico-Raciais, Coordenadora Geral no Fórum Permanente de Educação e Diversidade Étnico-Racial do Maranhão e Representante da SEMED no Conselho Municipal das Populações Afrodescendentes - COMAFRO, onde atuou com Coordenadora Executiva (2004-2008), membro da Comissão Técnica Nacional de Diversidade para Assuntos Relacionados à Educação dos Afro-brasileiros – CADARA/MEC, representando os Fóruns de Educação e Diversidade Étnico-Racial do Nordeste.


OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO POLÍTICA DA MILITÂNCIA DO MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO – MNU

sábado, 15 de janeiro de 2011

Coordenação Nacional de Formação

Conforme o Estatuto do MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO - MNU, aprovado no XV Congresso Nacional Ordinário
Lauro de Freitas - BA, 15 a 18 de junho de 2006:
ARTIGO 30 - A Coordenação Nacional (CON) é o órgão máximo de direção nacional, cabendo-lhe o papel de deliberar e dar direção política para o MNU em conformidade com as diretrizes definidas pelo Congresso.
§ 1º  -  A Coordenação Nacional tem poder deliberativo, salvo nas matérias de competência exclusiva do Congresso Nacional constantes deste Estatuto.
§ 2º - A Coordenação Nacional é composta por 09 (nove) membros eleitos em Congresso Nacional, com mandato de 02 (dois) anos.
§ 3º - A Coordenação Nacional terá reuniões quadrimensais.
§ 4º  -  Nas reuniões da Coordenação Nacional as decisões são tomadas por voto individual.
§ 5º - A Coordenação Nacional poderá formar Comissões com base na necessidade de desenvolver orientações gerais, que garantam o cumprimento do Programa de Ação e as decisões do Congresso.
A Coordenação Nacional - CON, é composta por nove membros, a saber: 
a) Coordenador(a) Nacional 
b) Coordenador(a) de Organização
c) Coordenador(a) de Finanças
d) Coordenador (a) de Formação
e) Coordenador (a) de Comunicação
f) Coordenador (a) de Relações Internacionais
g) Coordenador (a) de Articulação nos Estados
h) Coordenador (a) de Articulação Urbana
i) Coordenador (a) de Articulação Rural

ARTIGO 36  Compete ao(à) Coordenador(a) de Formação:
a)  analisar e interpretar as necessidades do povo negro, tornando-as bandeiras fundamentais de luta da organização;
b)  organizar, programar e projetar a formação dos militantes em todos os níveis e em qualquer ponto do país;
c)  promover eventos de caráter nacional que visem o fortalecimento da consciência política racial dos militantes, tendo por base a realidade social, política, econômica e cultural do povo negro;
d)organizar toda a documentação como cadastro de filiadas e filiados, simpatizantes, colaboradoras/es, GT's, NB's, a fim de facilitar a programação de atividades;
e)  promover a realização de estudos que permitam definir a ótica da entidade sobre a real situação da população negra no país, e divulgar essas informações;
f)  definir as políticas da entidade em relação à mulher, aos adolescentes e às crianças negras.